Com qual frequência devo ir ao dentista para limpeza? A regra de ir ao dentista a cada seis meses se aplica a todos?
Por Dr. Enzo Manna Machado
Resposta:
Com que frequência você troca o óleo do carro? A cada 5.000 quilômetros? Ou seria a cada 10.000? Graças aos computadores, a maioria dos carros modernos determina isso com base no tipo de motorista e nas condições climáticas que o veículo enfrenta.
Então, por que lhe disseram para ir ao dentista a cada 6 meses (ou a cada 3 meses se você tiver doença gengival)? Será que isso pode se aplicar a todos, sem considerar as variações previsíveis de estilo de vida e gatilhos ambientais? Além disso, quem disse que você precisa ir ao dentista a cada 6 meses?
Bom, nós dizemos. Nós, dentistas, em nossa sabedoria infinita, decidimos, como um grupo de profissionais de saúde preocupados com o bem-estar de nossos pacientes, que seria do seu interesse nos visitar a cada 6 meses. Ou seja, cada pessoa, quer tenha dentes saudáveis ou não, quer tenha gengivas saudáveis ou não, quer acumule muito tártaro e placa ou não, quer seja o melhor escovador e passador de fio dental do mundo, ou não. Isso mesmo, todos precisam ver o dentista a cada 6 meses.
Está começando a soar ridículo?
Espero que sim, porque é. Vamos primeiro discutir a origem dessa prática. Em seguida, armaremos você com o conhecimento necessário para tomar a decisão certa no seu caso específico.
Imagine que você é um motorista rápido, que dirige em condições de frio extremo ou em áreas poeirentas, ou trata seu carro com cuidado, aquece o motor toda manhã e dirige como o proprietário de uma máquina de gelo. Como consequência, com que rapidez o computador do seu carro indicaria que você precisa de manutenção? Portanto, com que frequência ir ao dentista para limpeza? Por que a profissão odontológica adotou o intervalo de 6 meses para consultas?
Tártaro e placa se formam na boca em diferentes velocidades. Por exemplo, não posso contar quantas vezes vi um paciente para uma visita de limpeza de rotina e, duas semanas depois, durante uma restauração programada, já observar a formação de tártaro nos dentes. Por outro lado, tenho alguns pacientes que precisam de limpeza apenas a cada 12 meses. Quando os dentistas poliram os dentes, a película (camada superficial do dente) é removida, mas reaparecerá em 3 dias. Posteriormente, o biofilme pegajoso (placa) se fixará na película.
O cuidado bucal em casa é vital para determinar essa taxa de acúmulo de tártaro e placa, os quais são parcialmente responsáveis pela doença gengival. Escovadores e passadores de fio dental assíduos, dependendo da frequência e qualidade com que o fazem, terão melhores resultados e precisarão de menos limpezas. Acima de tudo, é extremamente importante lembrar que a doença gengival é 100% evitável. No entanto, uma vez presente na boca, não é 100% curável e é menos que 100% controlável. Portanto, os pacientes e os dentistas precisam de métodos eficazes para lidar com o problema.
As seguradoras preferem a constância do conceito de consultas a cada 6 meses. Isso significa que elas podem fazer com que seus prestadores, os dentistas que aderiram ao plano, realizem trabalho periodontal por taxas de profilaxia. Assim, as companhias de seguro conseguem reduzir a utilização do plano, aumentando seus lucros. Como resultado, o paciente está sendo subtratado, e o dentista enfrenta desafios financeiros.
O dentista, por outro lado, vê algo completamente diferente. A maioria dos pacientes (80%) precisa de consultas mais frequentes. Claro, o dentista pode cobrar por raspagem e alisamento radicular, também conhecido como “limpeza periodontal”. Entretanto, isso não resolve o problema de pacientes que ainda não têm doença, mas precisam de um cuidado mais agressivo para preveni-la.
Prevenir a doença é o melhor modelo, tanto medicamente quanto financeiramente. Contudo, o modelo de seguro prefere esperar que a doença apareça, já que os atuários calcularam quantos pacientes necessitarão de tratamento. Além disso, eles sabem quantos dentistas tratarão essa doença, mesmo com uma estrutura de pagamento inadequada.
Como posso enfatizar ainda mais a importância de tratar, ou melhor, prevenir a doença gengival? Se eu estivesse sentado à mesa com o presidente do país, o comissário federal de saúde e o comissário de seguro de saúde, eu destacaria que mulheres grávidas com doença periodontal podem ter sete vezes mais chances de ter um bebê prematuro e com baixo peso. Consequentemente, entregaria a eles um lápis e papel para calcular o custo de sustentar bebês prematuros.
Então, o que recomendo que você faça?
Se você é uma mulher, obtenha um atestado de saúde antes de conceber. Além disso, aprenda como manter a saúde gengival. A saúde do seu filho depende disso. Busque um tratamento mais individualizado do seu dentista para lidar com suas questões periodontais específicas. Desconsidere o que o seu seguro está disposto a pagar. Embora você possa gastar mais ou menos inicialmente, a longo prazo, economizará dinheiro. Pressione sua empresa a encontrar um plano melhor antes do próximo período de inscrição, que cubra tratamentos preventivos adequadamente.
Encontre um dentista que compreenda e concorde com o que foi dito aqui e que ajude você a manter uma saúde bucal perfeita. Isso, por sua vez, melhorará outros aspectos da sua saúde, tanto mental quanto física.
Se você levar uma única mensagem para casa, lembre-se: a doença gengival é como um câncer. No estágio mais inicial, a gengivite, ela é curável. Depois disso, é apenas possível controlá-la.
Portanto, deixe que seu dentista ajude a prevenir a gengivite para que você nunca precise conviver com arrependimentos.
A doença gengival é 100% evitável. Afinal, a previsibilidade da natureza humana é a principal causa da doença gengival. Pergunte às companhias de seguro.
Por Dr. Enzo Manna Machado–MG-CD-067604
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Referência:
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